No Brasil, do início de 2015, até o final de
2019, exatos 268.654 bacharéis concluíram o curso de Ciências Contábeis[1],
portanto, aptos para o exercício da profissão, restando ainda a aprovação no
exame de suficiência e o registro regular no sistema Conselho Federal de
Contabilidade/Conselho Regional de Contabilidade (CFC/CRC)
No mesmo período, foram aprovados no Exame de
Suficiência 126.556 bacharéis [1]. Contudo, no Brasil,
para exercer legalmente a profissão contábil, é preciso (1) Ser Bacharel em
Ciências Contábeis; (2) Ser aprovado no Exame de Suficiência; (3) Obter o
registro no sistema CFC/CRC e (4) pagar um tributo, nominado anuidade.
Interessante notar que, no período mencionado
houve um acréscimo de apenas 19.041 registros no sistema CFC/CRC(s). Ora, o
mercado recebe, entre 2015 e 2019, 269 mil bacharéis, dos quais, 47% cumprem o
procedimento legal, anacrônico, mas legal, que é o exame de suficiência,
contudo, no cadastro geral do sistema CFC/CRC há um acréscimo de apenas 19 mil
Contadores[2].
Não, não foram somente as baixas de registro,
por idade, por morte etc, o motivo para que, no período de 2015 a 2019, dos 126
mil aprovados, tenha havido um acréscimo de somente 19 mil Contadores no
sistema CFC/CRC. Há, certamente, vários outros motivos, talvez os mesmos que
possam explicar o porquê da diferença, no mesmo período, entre a quantidade de
bacharéis que colaram grau e estão aptos a fazer o exame de suficiência, mas
que não prestaram o tal exame.
Mencionada diferença é de cerca de 143 mil Contadores (diferença entre 269 mil
bacharéis concluintes e 126 mil bacharéis aprovados
Onde está este contingente enorme de Contadores
formados? Creio mesmo que podemos chamá-los de "descamisados" da Contabilidade.
Os "descamisados", em maioria jovens,
que cursaram Instituições de Ensino Superior e prestaram, no mínimo, 16 provas
(exames) na graduação e pelo menos um exame do ENADE e somente poderão ser
considerados profissionais da Contabilidade, se prestarem mais um exame, onde,
em tese, adquirirão "suficiência" para o exercício da profissão
contábil. Perceberam o anacronismo de mais um exame que apenas prova que o
bacharel fez (mais uma) prova?
Importa agora refletirmos sobre os motivos para
haver "descamisados" e os "fora da lei". Sim, ilegais,
porquanto, pelas regras atuais, são aqueles que exercem atividades contábeis,
mas que não possuem o registro legal, porquanto transgridem o decreto-lei 9295/46
e Lei 1289/10. Alguns motivos prováveis para não haver registro regular no
sistema CFC/CRC:
- ·
Evasão por reprovação no exame
de suficiência;
- ·
Anuidades com preços
considerados elevados, sendo o bacharel aprovado ou não no exame de
suficiência;
- ·
Falta de campanhas dos CRC(s)
e CFC sobre flexibilização do valor das anuidades. Por exemplo, anuidade com
preço menor para o bacharel novo entrante.
- · Convênios dos CRC(s) com
instituição de ensino superior (IES), oportunizando palestras, encontros e
visitas de modo a incutir a necessidade de haver representação para defender
efetivamente os interesses da classe contábil;
- ·
As novas tecnologias, as
plataformas digitais, as inteligências artificiais etc, as quais reduziram em
muito a necessidade de mão de obra especializada (com conhecimento contábil)
nos escritórios e nas empresas;
- ·
O subemprego que grassa na
área contábil;
- ·
Não percepção por parte do
bacharel sobre a necessidade de haver uma entidade para representá-los;
- ·
A percepção de muitas
exigências que não "ajudam" em nada o profissional.
Os bacharéis, neste estudo lembrados, aprovados
ou não no exame de suficiência, por algum ou alguns dos motivos expostos, não
estão no sistema CFC/CRC, mas há profissionais que, paradoxalmente, estão
"dentro" do sistema CFC/CRC e possuem percepções muito semelhantes às
do bacharel entrante, Percebem e entendem que, se o sistema CFC/CRC não
existisse, não iria fazer falta alguma. Óbvio que esta percepção é um equívoco.
Conselhos profissionais existem para
representar a classe. Há pessoas nos Conselhos e, tais pessoas, foram eleitas
pela própria classe. Daí a necessidade de você entrar para representar e
defender sua classe e também proteger a sociedade dos maus profissionais. Você
precisa participar, precisa influenciar, precisa interagir, precisa apontar
onde estão os problemas e, em conjunto, buscar as soluções, com a lei, com a
ordem e fundamentalmente com a democracia.
Nossa profissão está mudando, como todas as
demais profissões e vai precisar de você bacharel entrante ou não no sistema
CFC/CRC e de todos os demais profissionais. Não se iluda, é com participação
política, não no sentido pejorativo da expressão "política", mas no
sentido de algo que tem a ver com organização, a direção, a administração e a
participação para o bem comum. Você acha que o CFC/CRC é ruim? Não serve para
nada? Pois saiba que alguém vai dirigi-lo. Por que não você? Democraticamente,
retire quem você não gosta, no voto, isso mesmo, com a democracia, com a
liberdade de expressão, com suas ideias. Após se convencer, convença seus
amigos e venha "para a chuva", venha ser telhado, pois atirar pedras
é muito fácil e simples. Quer mudanças? Mude você, participando. Decida seu
futuro, pois o sistema CFC/CRC não vai acabar e alguém vai decidir por você e
este alguém vai "ganhar" no voto.
Por anos, a ciência contábil foi tratada apenas
como um processo para haver registros e, concomitantemente, um razoável
controle do patrimônio da entidade, fosse essa entidade com ou sem fins
lucrativos. O Brasil, desde 2008, converge, harmoniza para uma Contabilidade tratada
realmente como ciência, onde a tomada de decisão para elevar, proteger e maximizar
o patrimônio é o que realmente interessa.
As decisões sobre o patrimônio sempre foram
pautadas no que o legislador preconizava. Regras, nome simples para o que se
convencionou pomposamente chamar de "code law". Se o Estado definisse
era assim que se fazia, pouco importava o que estava acontecendo com o
patrimônio das empresas.
Sendo apenas cumpridores de leis, normas e
regras nos transformamos em meros cumpridores de obrigações acessórias, num
país, como o Brasil, atolado de burocracias burras que nos tomam grande parte
do tempo útil que poderia ser utilizado para entender o patrimônio das empresas
e buscar as melhoras alternativas de prazos, de liquidez, de break even points,
de capital de giro, enfim, de melhores operações para maximizar o retorno dos
empresários.
No passado, se vissemos o Balanço Patrimonial
das Cias aéreas, não iríamos encontrar um único avião no Imobilizado daquelas
empresas, mas havia vários "voando" pelos céus do Brasil. Era um tal
de arrendamento (aluguel) que a lei, que a regra, que o "code law"
"diziam" que era aluguel e, como aluguel era tratado, mas na verdade
se embutia ali um financiamento e o risco sobre o avião era todo da Cia área.
Nessa época, a contabilidade brasileira entendia que a forma jurídica (o
código, a lei) era um aluguel, ainda que, em essência, havia mesmo era um
financiamento.
Mais: temos um sistema tributário onde há
casos, que existem mais exceções do que regras, está aí o PIS/COFINS que não
nos deixa mentir. É MEI, Simples, Presumido, Real e tome de obrigações fiscais,
federais, estaduais e municipais para qualquer regime. O que o Contador se
tornou? Ainda um seguidor de normas fiscais apenas. Um "apertador da tecla
enter do seu PC". Um seguidor de regras e mais regras...
Há um verdadeiro exército de brasileiros,
bacharéis em ciências contábeis não exercendo a profissão contábil ou a
exercendo de forma irregular. Não votam, não exercem pressão para as mudanças,
não participam de decisões, não podem se candidatar. São “bacharéis-zumbis”, a
vagar na área contábil sem o exercício da plena e necessária cidadania
classista para o engrandecimento da ciência contábil, da classe contábil e da
profissão contábil. Nesta ordem. A maioria já formados com uma Contabilidade digamos,
semi harmonizada, mas que para a classe nada podem fazer, posto que
encontram-se irregulares.
Participo de vários grupos em mídias sociais,
e, o que leio naqueles grupos? Reclamações sobre o alto valor das anuidades, sobre
a cobrança de anuidade, tanto para o profissional e concomitantemente ao
escritório, sobre os leigos exercendo indevidamente a profissão contábil, sobre
o sistema das eleições por chapas nos CRC(s), onde as “dinastias se perpetuam”.
Eleições absolutamente indiretas no CFC,
onde se elege um delegado que será o eleitor para este delegado eleger um
Conselheiro Federal. Ouço e leio mais: Sobre a ineficiência da fiscalização do
sistema CFC/CRC(s); sobre os altos valores de viagens e diárias dos Conselheiros,
sobre as aplicações financeiras elevadas dos CRC(s) e CFC. Sobre a burocracia,
sobre as horas trabalhadas, sobre o excesso de multas e etc.
Mas... na maioria dos Estados, o que se vê, ao
longo dos anos, “as oposições” sempre perdem. Aliás, na maioria dos Estados,
somente há chapa única, ou seja, a chapa do poder, a chapa da situação. E
aquele que reclama, continuará reclamando, porque não participou, votou em
branco, votou nulo ou não votou (no Rio de Janeiro, a soma de quem vota em
branco, vota nulo ou não vota supera a marca de 50% dos registros). É muita
coisa. Há motivos para acreditarmos que estes números se repetem em maior ou
menor escalas nos demais estados. As dinastias, que se perpetuam nos CRC(s) e
CFC agradecem penhoradas.
Há ainda que considerarmos que os profissionais
registrados no sistema CFC/CRC(s) absolutamente desconhecem as funções
delegadas aos CRC(s) e o papel do CFC. Saibam que regionalmente os CRC(s)
operacionalizam o registro e a fiscalização e promovem treinamento para os
profissionais. Mais nada. Não mudam legislação ordinária alguma sobre a ciência
contábil, sobre o exercício da profissão, sobre as eleições para os conselhos
etc, não mudam, mas podem fazer pressão e propor ao parlamento brasileiro as
mudanças. Há muitos regabofes para os patrocinadores apresentam seus produtos,
há farta distribuição de medalhas e moções, exatamente como vereadores que dão
nomes a logradouros. Ah! Há também muitos discursos recheados de platitudes e
de lugares comum, principalmente nos regabofes.
Algum Contador ou Técnico em Contabilidade do
Brasil já indagou sobre o porquê de o sistema, ao longo dos anos, manter
recursos tão elevados aplicados no mercado financeiro e não com a classe
contábil? Claro que deve haver algum motivo e você Contador e Técnico, que
sustenta este sistema, tem o direito de saber e entender estes “porquês”.
Certamente você pode ou não concordar com as respostas, mas sem dúvida, como
principal pagante, tem o direito de saber e decidir sobre o destino dos
recursos que você aporta junto ao sistema com o nome técnico de anuidade.
Por exemplo, em 2019, somente os seis maiores
CRC(s) do Brasil, os quais concentram 2/3 da arrecadação do sistema, aplicaram
no mercado financeiro, o valor médio mensal aproximado de R$ de 296,6 milhões
[3] Acha muito? Acha pouco? Quer mudar isso? Somente participando. Somente
tomando a decisão de eleger quem é ou está comprometido com a mudança que se
almeja. E melhor: O candidato pode ser você mesmo.
As plenárias nos CRC(s) são públicas (quantas
você já compareceu?) há ouvidorias, há portais de transparência, aliás todos os
dados aqui publicados estão em tais portais. Mudanças políticas não vão
acontecer em grupos de mídias sociais, mudanças políticas, nos regimes
democráticos acontecem com o VOTO, com a participação da classe, nas plenárias
e nos canais de comunicação estabelecidos nos sítios do sistema CFC(CRC(s).
Como já enfatizamos, há ouvidoria, há portal de transparência, há democracia e
liberdade de expressão para se tentar mudar alguma coisa. Quantas vezes você,
que paga, que sustenta o sistema, exerceu esta cidadania?
Não duvide, a profissão contábil, como todas as
profissões passa por profundas transformações e seus profissionais precisam de
encaminhamento, de liderança, de debates para a construção desse futuro. Esse
profissional pode ser você: Bacharel, que precisa se registrar ou profissional
da Contabilidade, que sempre votou em branco, nulo ou não votou por achar que
nada se resolve em Conselhos.
Muitos assuntos são resolvidos sim nos
Conselhos, outros assuntos são encaminhados pelos Conselhos, entretanto até
para serem encaminhados, há necessidade de sua participação.
Qualquer líder propõe mudanças e as conduz. Na
classe contábil não é diferente. Você, Contador ou Técnico em Contabilidade
"é o cara". Você, Bacharel em Contabilidade, registre-se, participe e
venha também propor as alterações que você entende como necessárias para a
classe;
Não é crível que, mesmo com as novas
tecnologias, tenhamos que viver e conviver com este excesso de burocracia, de
impostos e encargos elevados, de multas exorbitantes e este absurdo excesso de
obrigações fiscais e acessórias. Creia, você será sempre parte disso tudo. Por
ação ou por omissão.
[1] Fonte: http://portal.inep.gov.br. Acesso em
09.12.2020 e www.cfc.org.br. Acesso em
30.04.2020
[2] Fonte:
https://cfc.org.br/registro/quantos-somos-2/ Acessado em 08.03.2020
[3] Fonte 3.1: www.cfc.org.br - Relatórios de
Gestão. Valores aproximados. Dados Acessados em diversas datas Fórmula
utilizada: [Rec.Financeiras/(0,95 x Taxa CDI)]
Fonte 3.2: http://www.portalbrasil.net/indices_cdi.htm - acessado em
diversas datas - Valores aproximados. Considere 95% do CDI como taxa mínina
para a remuneração dos valores investidos.