Por Raimundo Aben Athar
Sabemos que spread
bancário é a diferença entre as taxas de captação (banco “pagando” para ter os
recursos) e as taxas de aplicação (banco “recebendo” por usar os recursos). O
spread bancário indica, de forma muito elementar, a diferença entre o preço de
“compra” do dinheiro e o preço de “venda” deste mesmo dinheiro.
Uma comparação
internacional feita em artigo de 2019, assinado pelos economistas Vitor Vidal,
da LCA Consultores, e Marcel Balassiano, do Ibre/FGV, aponta que, ao mesmo
tempo em que tem o segundo maior spread bancário do mundo (atrás apenas de
Madagáscar), o Brasil está entre os piores países em termos de recuperação
judicial de crédito. No Japão, por exemplo, país com o menor spread do mundo,
são recuperados US$ 0,92 para cada US$ 1 emprestados. No Brasil, são
recuperados, apenas US$ 0,11 para cada US$ 1 emprestado. Detalhe, a média
mundial está em US$ 0,34 por US$ 1 emprestado.
Claro deve estar que essa
ínfima recuperação do crédito concedido, impacta diretamente em vários custos
que devem ser suportados pelos bancos, para a decisão de implementar uma
operação de crédito, na condição de credor.
Uma das questões determinantes na formação dos custos para emprestar, é a estrutura de captação dos bancos e quanto eles, os bancos, estão pagando por tais estruturas, por exemplo, grandes bancos, devido á capilaridade, tendem a concentrar volumes de depósitos à vista, a prazo e de poupança muito superior aos bancos médios e pequenos. Outro fator, não menos importante, é a concentração bancária, para se ter uma ideia, os cinco maiores bancos brasileiros, por ativo, concentram 83,2% do mercado e 84,6% das operações de crédito no país[1]. A figura 1, abaixo, nos ajuda a entender o quão determinante para a formação das taxas de juros e dos spreads elevados é essa concentração bancária. Vejamos:
Figura 1
Fonte: https://insights.liga.ventures/open-banking/o-cenario-de-concentracao-bancaria-no-brasil/ Acessado em 07.05.2021
Além da concentração bancária,
há vários outros motivos para os altos spreads brasileiros. Vejamos alguns:
a) Dívida Pública Interna Alta:
·
Que incentiva a poupança
financeira e desestimula a poupança produtiva;
·
Que eleva o prêmio pelo
risco dos empréstimos;
b) Níveis elevados de compulsórios:
·
Depósitos à Vista: 21%
·
Depósitos a Prazo: 31%
·
Depósitos de Poupança
Livre e Rural 20%
c) Níveis elevados de impostos:
·
PIS – 1,65%, COFINS –
7,6%
·
IR – 15% +
10%(adicional), CSSL – 9%
·
FGC = 0,025% sobre DAV,
DPZO e DPOUP (Fundo Garantidor de Crédito)
d) Créditos Direcionados
·
Financiamentos Rurais: 30% dos DAV(s)
·
Financiamentos.
Imobiliários: 65% dos DPOUP(s)
·
Microcrédito: 2% dos DAV(s)
De acordo com o Banco Central, a diferença entre a taxa média cobrada nos empréstimos e a taxa de captação dos recursos, até out/2020, estava em 21,5pp. Vejamos a figura 2:
Figura 2
Fonte : www.bcb.gov.br –
Acessado em 07.05.2021
A grande questão agora é
explicar o porquê daqueles 21,5% de diferença entre as taxas de aplicação e as
taxas de captação dos bancos brasileiros. Vejamos o quadro 1:
Quadro 1
Discriminação |
Em proporção do spread |
Custos
Administrativos |
0,8% |
Inadimplência |
41,3% |
Compulsórios/Direcionamentos |
2,3% |
Impostos
Indiretos e FGC |
3,5% |
Impostos
diretos |
20,4% |
Margem de
Lucro |
31,7% |
Total Spread |
100% |
Em 2015, estudo da FIESP,
aponta que o Brasil possuía um spread bancário 16,4 vezes maior que os seis
países que usam o mesmo critério, adotado pelo Brasil, de composição para
determinação do spread. A figura 3, a seguir. deixa claro a disparidade de
taxas entre o Brasil e países como Itália, Nova Zelândia, Chile, Suécia,
Malásia e Japão.
Há um longo caminho ainda a ser percorrido para que tenhamos um spread comparável ao primeiro mundo, porém, percebe-se claramente a redução significativa do spread bancário brasileiro entre 2015 e o ano de 2020, que diminui de 31,3 pp para 21,5pp., sem dúvida uma evolução, mas, como enfatizamos, ainda há muito a percorrer na diminuição dos impostos diretos e diretos, nos créditos direcionados, na inadimplência, na segurança jurídica para os bancos emprestarem, na concentração bancária, na definição da margem de lucro e nos recolhimentos compulsórios.
Para finalizar, vale ressaltar: A Contabilidade Bancária, é determinante para apuração e entendimento dessa importante variável da economia, que é o spread bancário.
[1]
www.bcb.gov.br – Acessado em 07.05.2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário