CABERJ, O QUE NÃO CONTARAM PARA VOCÊ
Por Raimundo Aben Athar
Recentemente, houve uma votação
para aprovação das contas da CABERJ, a Caixa de Assistência dos Funcionários do
Banco do Estado do Rio de Janeiro, segundo a própria CABERJ, houve uma
aprovação maciça dos segurados que votaram pela aprovação daquelas
contas. A CABERJ "esqueceu" de dizer que, dos 10.391 segurados, aptos para votar, do
plano mater, o plano dos “velhinhos”, apenas 1.198 votaram pela aprovação das
contas, significando dizer que, 9.114, não foram às urnas, 61 votaram “não”e
18 votaram ou em branco ou anularam o voto.
A publicidade da CABERJ deveria
ser assim: “UMA PENA, SOMENTE 11,5% DOS SEGURADOS, VOTARAM PELA
APROVAÇÃO DE CONTAS DA CABERJ”. Vejamos a figura 1 a seguir:
Figura 1
Creio que
nem todos sabem quantos somos e como estamos distribuídos por faixa etária no
plano MATER. Atentem para a figura 2, a seguir, vejam se não é mesmo o plano
dos “velhinhos”. Infelizmente, “velhinhos”, ao que parece, que não se interessam pelo o
que acontece no dia a dia de seu plano de saúde.
Figura 2
Fonte:
Relatório CABERJ 2018 – disponível em https://www.caberj.com.br/documentos/Relatorios/2018/RelatorioAnual2018.pdf
Sem dúvida, uma carteira de idade
avançada e muito custosa, porém é a carteira dos velhinhos e velhinhas que contribuíram
a vida toda e, na juventude, deixaram na CABERJ uma bela poupança e agora são obrigados
a viver com o fantasma de um PLAEF, que a grande maioria dos 10.391
participantes do Plano Mater, não deve saber o que é. Explicando melhor: O
PLAEF é uma espécie de “Intervenção do Banco Central”. No velho Banerj, tivemos
duas, lembram?
Na CABERJ, o “Banco Central” é a
Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS e o PLAEF significa Plano de
Adequação Econômico-Financeira, iniciado em dezembro de 2017, com o aval da ANS.
Triste sina a nossa. Na juventude, Banco Central, na velhice, ANS.
Mas a quê a CABERJ precisa se
adequar? E que “aval” é esse da agência fiscalizadora de planos de saúde? Vejamos, pois.
Vários motivos levaram a essa
situação de a CABERJ precisar se adequar econômica e financeiramente. Um deles,
foi a decisão famigerada de acordar um contrato com a
Prefeitura do Rio de Janeiro, o qual, entre 2015 e 2016 fez elevar as despesas
com custos médicos em R$ 152,1 milhões/ano ou quase R$ 13,0 milhões/mês. Saindo, tais despesas, em 2015, do valor de R$ 263,0 milhões para R$ 415,1 milhões em 2016. Enquanto que as
receitas com contraprestação se elevaram, no mesmo período, em R$ 112,1 milhões.
Um gigante déficit com operações de plano de saúde começava a se anunciar. Em 2016, tal déficit, foi de R$ 56,2 milhões e
culminou com o cancelamento do contrato em março/abril de 2017.
Assim, em dezembro de 2017, a CABERJ
chegou ao tal plano de adequação econômico-financeira. Mas o mal já estava
feito...
O que levou a esta situação? Cálculos
atuariais imprecisos? Alguém acha ser normal uma despesa num único ano se
elevar em quase 58%? Tudo que li sobre este assunto aponta que não houve erro
de ninguém. O “erro” foi somente do “sr. mercado”, o grande culpado por esse
contrato. Contrato este que teve que ser “abatido em pleno voo” e que, se os
cálculos atuariais estivessem corretos, seria um verdadeiro achado, pois o país
em recessão e a CABERJ consegue um novo contrato. Que beleza, não é mesmo? Qual
nada, em menos de um ano, os números do contrato indicam o quão pernicioso
econômica e financeiramente foi/era este contrato. A prefeitura foi embora e
quem ficou que pague a conta e... Aprove as contas.
O Plano Mater é um plano de
autogestão, sem patrocínio algum. Até que os gestores da CABERJ resolveram
colocar um “tempero” no negócio (o contrato com a prefeitura). O tal “tempero”,
“azedou”, e deu no que deu. Levando-nos a um remédio chamado “PLAEF com o aval
da ANS”. Simples assim.
Não dá para entender tanta falta
de participação dos integrantes (os velhinhos) do Plano Mater nas votações para
aprovação de contas e nas eleições, afinal, trata-se de um plano que, se deixar
de existir, será difícil alguma operadora nos aceitar nas mesmas condições e,
se nos aceitar, será com um valor de mensalidade bastante aviltado. Com tudo
isso, menos de 11% dos integrantes do plano Mater, instigados, provavelmente
por amigos dos amigos, seguem aprovando contas que talvez desconheçam na
realidade o que estão aprovando. Não tenho dúvida, a CABERJ precisa de um
choque de gestão. São os mesmos que estão lá há muitos anos e nos levaram a esta
situação.
Mas, afinal, o que aconteceu com
a nossa CABERJ de 2015 até 2017? Deixemos para analisar 2018, depois de vermos estes
três anos e começarmos a entender o que efetivamente está acontecendo.
Há vários indicadores
econômico-financeiros que são largamente utilizados por analistas do mercado de
operadoras de saúde. Vamos apontar apenas três deles, escolhidos por sua
representatividade e importância por analistas de mercado. Tais indicadores
foram analisados no período de 2015 até 2017.
Vamos “isolar” 2018 apenas para
caracterizarmos de forma bem clara o que queremos demonstrar. 2018 foi um ano
de melhora, mas tenham uma certeza: não foi por causa de eficiência da administração atual. Vejamos
as análises:
Liquidez Corrente
Este indicador nos mostra a
capacidade de pagamento da CABERJ a curto prazo. Aponta que, para cada R$ 1,00
de dívidas de curto prazo, quanto há de bens e direitos que se espera serem
realizados (transformados em dinheiro) também no curto prazo. É um indicador
que os analistas chamam de “quanto maior, melhor”. Vejamos a figura 3, a seguir:
Notem que em 2015, para cada R$
1,00 de dívida de curto prazo, havia R$ 2,04 para honrar aquelas dívidas. Em
2016, o mesmo indicador diminui para R$ 1,33 para honrar as dívidas e em 2017,
culmina com apenas R$ 0,84.
O Ativo de curto prazo da CABERJ
desidratava a olhos vistos e, se não fosse, a quebra deste contrato, quem “quebraria”
seria a CABERJ.
E contas aprovadas... E sem a
participação maciça de quem na verdade banca a CABERJ, por 30, 40 e 50 anos.
Figura 3
Rentabilidade do Ativo
O Ativo, sabemos, são os bens e
direitos que a CABERJ possui. O Ativo é, na verdade, o patrimônio bruto das
entidades, quando, deste patrimônio bruto, se diminui, as dívidas e obrigações,
encontramos o que se denomina de patrimônio líquido, também conhecido
tecnicamente como capital próprio. Em operadores de saúde, o patrimônio líquido
é também conhecido como patrimônio social.
A rentabilidade do Ativo indica
para o analista, quanto retornou em forma de lucro, para cada R$
1,00 aplicado em bens e direitos (aqui, podemos também considerar como
investimentos da CABERJ, no sentido lato da expressão). Trata-se de um
indicador que também podemos aferir que, quanto maior melhor. Vejamos a figura 4:
Figura 4
Reparem que, no período analisado,
os ativos da CABERJ diminuem em quase R$ 60,0 milhões (R$ 292,2 – R$ 179,6). A
partir de 2016, o que era lucro, passa a ser prejuízo de R$ 54,7 milhões e
outro prejuízo de R$ 55,3 milhões em 2017. Ou seja, em dois anos de contrato
com a prefeitura “foram embora” R$ 110,0 milhões (R$ 54,7 milhões + R$ 55,3
milhões) dos cofres da CABERJ.
Em 2015, para cada R$ 1,00
investido em bens e direitos na CABERJ, retornou em forma de lucro menos de R$
0,01 (se houvesse expressão monetária) ou, para quem preferir, uma
rentabilidade pífia de 0,63% no ano. Em 2016 e 2017, a rentabilidade é negativa.
Uma lástima. Um desastre se avizinhava e tome de contas aprovadas...
Sinistralidade
Este indicador compara as
despesas assistenciais (pagamentos a médicos, clínicas hospitais etc.) com as
receitas de contraprestações (os pagamentos que os segurados fazem à CABERJ).
Indica a sinistralidade, ou seja, quanto da receita será destinada para cobrir
as despesas, ou, se preferir, para cada R$ 1,00 pago pelo segurado, quanto se
gastou de despesas. Este indicador, segundo os analistas de mercado, não deve
ultrapassar 75,0% das receitas é um indicador que, quanto menor, melhor. É,
talvez, o indicador mais importante, dos vários disponíveis, pois aponta o grau
de eficiência da administração. Fácil identificar a agudez da crise, ocorrida, entre
os anos de 2015 a 2017 que culminou com o tal PLAEF. Vejamos a figura 5, a
seguir:
Figura 5
Reparem, em 2017, a
sinistralidade atinge 97,3%, significando dizer que, cada R$ 1,00 arrecadado, R$
0,97 eram gastos com os médicos, exames, hospitais etc. Com os R$ 0,03 restantes, a CABERJ precisava ainda
pagar pessoal, despesas de comercialização, despesas administrativas etc. Enfim,
uma situação muito preocupante e que nunca foi devidamente esclarecida de o
porquê ter chegado a esse ponto.
O ano de 2018
Veio 2018 e, pelo que se lê nos
relatórios, publicados pela atual diretoria da CABERJ, parece que tudo se transformou
para melhor e que todos os problemas acabaram.
Ao contrário, é agora que os
problemas precisarão de encaminhamento seguro e calcado em estratégias que
considerem que somos uma operadora de saúde, sem patrocinador e que nos
autogerimos. A aventura com outros planos, de forma perene, contaminou todo o Plano Mater, cujas pessoas efetivamente construíram este patrimônio para ter
tranquilidade na velhice e não sobressaltos com PLAEF(s) ou intervenções
brancas, a assombrarem nosso futuro no momento em que mais precisamos de assistência
médica.
Vejamos alguns dados para serem
transformados em informação e nos prepararmos melhor para as próximas decisões
que o corpo de segurados, principalmente aqueles do Plano Mater deverão tomar
ainda em 2019.
- De 2015 para 2018, o ativo (bens e direitos) da CABERJ diminuiu em R$ 63,8 milhões. Saindo de R$ 239,2 milhões em 2015 para R$ 175,4 milhões em 2018.
- As dívidas, obrigações, contingências e provisões aumentaram R$ 50,4 milhões. Estavam em R$ 74,6 milhões em 2015 e, em 2018, atingiram R$ 125,0 milhões. Notem que enquanto o ativo diminuiu em 26,7%, as dívidas e obrigações aumentaram em 67,6%
- Em 2018, houve VENDA de um Ativo Imobilizado, que gerou uma entrada líquida de Caixa da ordem de R$ 6,0 milhões. Também em 2018, houve a obtenção de um empréstimo no valor de R$ 10,0 milhões, perfazendo assim um total de R$ 16,0 milhões. Não fosse essas duas operações, a CABERJ não conseguiria pagar todas as suas obrigações em 2018.
- Em 2018, ano do empréstimo tomado ao Bradesco, foram efetuadas aplicações financeiras com o mesmo Bradesco, no total exatos de R$ 10,0 milhões, as quais, nunca existiram em anos anteriores. Algumas dessas aplicações são Títulos de Capitalização. Este fato pode indicar uma operação casada, aceita somente por entidades endividadas, as quais, sem outra alternativa, se submetem a tais condições. Notem: tomar um empréstimo de R$ 10,0 milhões e aplicar no mesmo ano outros R$ 10,0 milhões no mesmo Banco, parte em títulos de capitalização, que sabemos todos é um tipo de aplicação de menor rentabilidade.
- Registre-se ainda que parte das aplicações efetuadas junto ao Bradesco foram diminuídas das aplicações financeiras na Caixa Econômica Federal - CEF, resgatadas no seguinte Fundo de Investimento: FUNDO FIDELIDADE – RF-LP. Foram sacados deste Fundo, R$ 8,6 milhões. Isso mesmo, diminui-se aplicações na CEF e os recursos foram alocados em maioria no banco Bradesco, que coincidentemente havia emprestado R$ 10,0 milhões no mesmo ano de 2018.
- Em 2018, a CABERJ capitaliza a CABERJ INTEGRAL, em R$ 3,0 milhões, ou seja, R$ 3,0 milhões foram sacados do Caixa da CABERJ dos velhinhos para capitalizar uma empresa que provavelmente foi criada para ser outra CABERJ, pós plano MATER, afinal mais 20/25 anos, poucos de nós estará aqui para contar alguma história e por que devemos capitalizar uma empresa que pouco ou nada iremos desfrutar em resultados de equivalência patrimonial? Não há sentido, tampouco lógica, nesta estratégia que descapitaliza a CABERJ, a qual vive uma situação absolutamente desconfortável, para capitalizar outra empresa, ou seja, na verdade, apenas mais uma aposta dos gestores da CABERJ.
- O Fluxo de Caixa da CABERJ do ano de 2018, deixa claro que, se não fosse a venda de imobilizado no valor de R$ 6,0 milhões e o empréstimo no valor de R$ 10,0 milhões, a CABERJ teria que diminuir ainda mais suas aplicações financeiras de médio para longo prazo e comprometer alguns indicadores exigidos pela ANS para honrar todas as obrigações. Vejamos a figura 6:
Figura 6
Notas:
(1) Não inclui aplicações
financeiras de liquidez mediata e imediata;
(2) As atividades operacionais da
CABERJ, em 2018, consumiram Caixa em R$ 12,9 milhões. Assim demonstrados:
Entradas operacionais: R$ 409,0 milhões – Saídas Operacionais: R$ 421,9
milhões.
(3) Esta atividade de
Investimento gerou Caixa (mais entradas do que saídas) porque se vendeu
imobilizados no valor de R$ 6,0 milhões, ainda que se tenha gasto R$ 3,0
milhões com capitalização da CABERJ INTEGRAL.
(4) Esta atividade de
financiamento também gerou Caixa no valor de R$ 7,5 milhões, porém tudo por
conta do empréstimo efetuado junto ao Bradesco no valor de R$ 10,0 milhões.
· Considerações finais
É importante ressaltar que a melhora de alguns indicadores da CABERJ em 2018 e que vem sendo anunciada com alarde pela atual administração, não decorreu de eficiência, mas sim da redução drástica de despesas com o fim do contrato com a prefeitura. Ora, aquele contrato, que gerava mais despesas do que receitas, acabou em março/abril de 2017. Evidente que o ano de 2018, teria por obrigação ser melhor.
· Vejam como é fácil provar que foi a quebra do contrato com a prefeitura que “melhorou” os números da CABERJ: Nas peças contábeis publicadas em 2018, há uma redução de R$ 139,0 milhões nos eventos indenizáveis líquidos relativamente a 2017. Isso mesmo, R$ 11,5 milhões/mês deixaram de sangrar o Caixa da Caberj. Não se iludam, o superávit bruto de 2018, não foi gerado por salvadores, foi gerado pelo fim de um contrato pernicioso para a CABERJ, o qual, felizmente, deixou de existir.
· As provisões técnicas, em 2018, elevaram-se em R$ 105,0 milhões, relativamente a 2017. Sinal claro de aumento de risco. Sinal claro também de exigências legais de proteção ao segurado. É o PLAEF mostrando a que veio. No ano de 2018, vimos que, reduziram-se despesas efetivas em R$ 139,0 milhões, contudo, as provisões técnicas elevaram-se em R$ 105,0 milhões. E elevaram-se porque diante do descalabro ocorrido com o famigerado contrato com a prefeitura, diversos de nossos limites precisaram ser redimensionados, alguns até com excesso de conservadorismo, mas necessários diante do quadro caótico que se instalou, aumentando sobremaneira os riscos de não atendimento aos limites legais.
· O superávit bruto gerado decorreu da seguinte condição: as receitas foram reduzidas em R$ 54,0 milhões e os eventos indenizáveis em R$ 139,0 milhões. Deste superávit de R$ 85,0 milhões, acrescidos de uma variação positiva da provisão de eventos ocorridos e não avisados de R$ 9,4 milhões. geraram um superávit de R$ 94,0 milhões. Mas vejam, cerca de R$ 61,0 milhões em outras despesas (saídas de Caixa) levaram o superávit líquido para apenas R$ 33,0 milhões.
A CABERJ saiu da UTI e foi para o
CTI. Não é mais o contrato com a prefeitura o problema. O problema agora são as sequelas,
as quais permanecerão por algum tempo. Digamos que no passado, houve erro
médico. Todavia, os mesmos médicos que erraram o diagnóstico em assinar o
contrato com a prefeitura, ainda estão lá, agarrados aos seus cargos e tentando
salvar um paciente, que tinha relativa saúde e ia bem e agora depende de aparelhos médicos para sobreviver.
O ano de 2019 será crucial para
observamos o comportamento da CABERJ. Até quando, continuará obtendo
empréstimos para honrar suas operações? Quantos ativos mais, precisará vender? As
aplicações financeiras da CABERJ, sabemos todos, no total em 2018, de R$ 68,0
milhões. Eram R$ 88,0 milhões em 2015.
Não devemos nos iludir, somente a
participação maciça do corpo de segurados pode mudar isso. Votem, participem, a
CABERJ precisa e depende de todos nós, principalmente aqueles do
Plano Mater.